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13 de nov. de 2010

Epidemia pode infestar 200 mil haitianos

País registra quase 800 mortes pela doença e 12,3 mil hospitalizados; ONU pede ajuda de US$ 163,9 milhões para conter a epidemia

Até 200 mil pessoas poderão contrair cólera no Haiti, caso a epidemia que atinge o país não for controlada, informou o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas (Ocha). De acordo com o Ministério da Saúde haitiano, até ontem, 796 pessoas tinham morrido - 13 delas na capital, Porto Príncipe - e outras 12.303 estavam hospitalizadas por causa da doença.

O ONU pediu ontem uma ajuda de US$ 163,9 milhões para financiar um plano de ajuda para conter a infestação. Cinco agências da entidade, 42 organizações não governamentais e a Organização Internacional para a Migração (OIM) participaram da elaboração da estratégia de ação em apoio ao Ministério de Saúde Pública e População do Haiti.

O medo da propagação da epidemia cresce por toda Porto Príncipe, onde centenas de milhares de haitianos dormem em acampamentos precários desde o terremoto de 12 de janeiro, que deixou mais de 250 mil mortos e cerca de 1,5 milhão de desabrigados. Também há a possibilidade de que a infestação chegue à vizinha República Dominicana.

A cifra de mortos calculada pela ONU seria o dobro da registrada durante a epidemia de cólera que atingiu o Zimbábue, na África, entre agosto de 2008 e julho de 2009. Ao todo, 4.287 pessoas morreram. A estimativa da entidade teve como base, parcialmente, os resultados da infestação no país africano.

"A estratégia antecipa um total de até 200 mil pessoas com sintomas de cólera, entre casos de diarreia leve e desidratação mais severa. É esperado que os casos apareçam em epidemias que ocorrerão repentinamente em diferentes partes do país", declarou ontem em Genebra Elisabeth Byrs, representante da Ocha.

De acordo com Gregory Hartl, porta-voz da Organização Mundial de Saúde (OMS), "a taxa de mortalidade ainda não está muito elevada, mas é maior do que a usual, de 6% ou 7%". "Deveria ser muito menor", disse. Entre quinta-feira e ontem, foram registradas 72 mortes.

A Cruz Vermelha também pediu ontem à comunidade internacional ajuda aos haitianos, alertando para a possibilidade de uma crise humana, caso a epidemia não seja controlada.

"Estamos fazendo o possível para que a cólera não se espalhe para os acampamentos, alguns com mais de 40 mil pessoas, porque a propagação (da doença nesses locais) causaria uma tragédia humana sem precedentes", disse em um comunicado o diretor executivo da Cruz Vermelha no Haiti, Jean-Pierre Guiteau.

A entidade pede mais de US$ 6 milhões à comunidade internacional para estabelecer o abastecimento de água potável, atividades de saneamento e promoção de higiene, além de outras medidas de saúde que ajudem a controlar a epidemia. Um dos grandes desafios no país é comunicar à população que o contágio de cólera pode ser evitado com cuidados simples, como lavar as mãos com frequência e ingerir apenas água fervida.

O Haiti possui todos os fatores de risco clássicos para a propagação da cólera: acampamentos superpovoados que abrigam as vítimas do terremoto, eliminação inadequada de dejetos humanos e contaminação de alimentos durante ou depois do preparo. A passagem do furação Tomas, no começo do mês, agravou ainda mais a situação no país. A tormenta causou inundações que isolaram cidades costeiras e mataram aos menos 20 pessoas.

De acordo com as autoridades haitianas, a principal fonte da infestação foi o Rio Arbonite, ao norte de Porto Príncipe. Segundo o documento que registra a estratégia da ONU, foram confirmados casos de cólera em cinco dos dez departamentos (Estados) do Haiti. E a epidemia tem "alto risco de estender-se por todo o país nos próximos meses".


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